O buddhismo (ou simplemente budismo) é o conjunto de tradições religiosas que surgiram a partir dos ensinamentos de Buddha. Ele não inventou estes ensinamentos — o Dharma —, mas sim
re-descobriu verdades atemporais que já tinham sido ensinadas pelos seres iluminados das eras passadas. Atualmente, o buddhismo é a religião mais difundida na Ásia, onde conta com aproximadamente
300 milhões de seguidores. Os primeiros contatos do buddhismo com o Ocidente aconteceram há muito tempo, mas somente a partir do século XIX é que houve um interesse maior por parte dos
ocidentais.
O buddhismo é religião, uma filosofia, um sistema de psicologia?
A tradição buddhista abrange e transcende todos estes aspectos. Como religião, o buddhismo procura nos "religar" (re-ligare) à nossa verdadeira natureza. Como filosofia, o buddhismo
enfatiza o "amor à sabedoria" (philo-sophia) no sentido mais elevado. E como psicologia, o buddhismo oferece um vasto "conhecimento da mente" (psykhe-logos). Acima de tudo, o buddhismo oferece um
caminho que conduz ao fim do sofrimento.
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O buddhismo é uma ciência?
Às vezes o buddhismo é descrito como uma "ciência da mente", no sentido de oferecer um sistema de conhecimento profundo do funcionamento da mente. Os métodos usados pelo Buddha para analisar a
natureza das coisas são praticamente científicos. Seus ensinamentos surgiram a partir da profunda contemplação das leis naturais de causa e efeito e podem ser atestados por qualquer pessoa,
independente de suas crenças. O próprio Buddha recomendou que seus discípulos devem analisar os ensinamentos e não simplesmente aceitá-los por mero respeito.
Quem é o chefe do buddhismo?
O buddhismo não possui uma hierarquia centralizada; cada tradição possui a sua própria estrutura organizacional. Muitos pensam que Sua Santidade o Dalai Lama, Tenzin Gyatso, é o "chefe" do
buddhismo. Na verdade, Sua Santidade é o líder espiritual do povo do Tibet, ocupando uma importante posição dentro tradição tibetana Gelug. Entretanto, o Dalai Lama não é "chefe" do buddhismo,
pois este posto sequer existe. Muitos praticantes buddhistas de outras tradições buddhistas e não-buddhistas têm grande respeito por ele.
Como são os ensinamentos buddhistas?
Há algumas características que permeiam os ensinamentos de Buddha. Qualquer ensinamento que esteja de acordo com estas características pode ser considerado buddhista: todas as coisas
condicionadas (ou seja, que surgem de causas) são insatisfatórias; todas as coisas condicionadas são impermanentes; todas as coisas (condicionadas e incondicionadas) são destituídas de um "eu" ou
de uma essência independente; apenas o nirvana oferece paz verdadeira. Algumas pessoas pensam que o "buddhismo é pessimista", que "só fala de sofrimento" e "nega a felicidade". Na verdade, o
buddhismo adota uma visão realista de nossos problemas e oferece um caminho que conduz à mais elevada felicidade.
O que é o despertar?
O despertar, ou iluminação, é o estado mais elevado de virtude e sabedoria. No buddhismo não existe o conceito de "pecado original" porque todos os seres têm o potencial de atingir o despertar.
Existe a iluminação dos ouvintes (shravaka-bodhi), aqueles que ouviram os ensinamentos de Buddha e atingiram o despertar; a iluminação dos realizadores solitários (pratyeka-bodhi), aqueles que
atingiram a iluminação sem precisar ouvir os ensinamentos de um Buddha; e a iluminação completa e perfeita (samyaksambodhi), atingida apenas pelos Buddhas. Estes três tipos iluminação são
progressivamente mais profundos e mais difíceis de atingir.
O que é nirvana?
O nirvana é a mais alta felicidade, um estado completamente além do sofrimento. Todos aqueles que atingiram algum grau de iluminação desfrutam da paz do nirvana. Aqueles que atingem o nirvana não
estão mais sujeitos ao renascimento no samsara — a existência cíclica — porque estão além do ciclo da morte e renascimento. O samsara é condicionado, isto é, surge de causas e condições; já o
nirvana é incondicionado, não depende de causas e condições. Por isso, o nirvana não é um lugar, pois transcende o espaço; e o nirvana é eterno, pois transcende o tempo. O nirvana não é a
"extinção do ser", mas sim a "extinação do sofrimento".
Quais são os principais ensinamentos do buddhismo?
São as quatro nobres verdades: 1. Todos os seres estão sujeitos ao sofrimento (velhice, doença, morte, insatisfação etc.); 2. O sofrimento surge de causas (cobiça, raiva, ignorância etc.); 3. Ao
eliminarmos as causas, o sofrimento é eliminado; 4. Praticando o nobre caminho óctuplo, o sofrimento e suas causas são eliminadas.
O que é o nobre caminho óctuplo?
É o caminho ensinado pelo Buddha que conduz ao despertar. Ele recebe este nome por ser dividido em oito práticas, geralmente agrupadas em três treinamentos.
Os Três Treinamentos Superiores | O Nobre Caminho Óctuplo |
I. Sabedoria |
1. Visão Correta 2. Pensamento Correto |
II. Ética (ou Moralidade) |
3. Fala Correta 4. Ação Correta 5. Meio de Vida Correto |
III. Meditação |
6. Esforço Correto 7. Atenção Correta 8. Meditação Correta |
Com o treinamento da ética, nossa mente chega a um estado tranqüilo, propício à meditação. E com o treinamento da meditação, é possível chegar à sabedoria que conduz ao despertar. O nobre caminho
óctuplo também é conhecido como o "caminho do meio" porque é baseado na moderação e na harmonia, sem cair em extremos.
O que é sabedoria?
O termo sabedoria não se refere a um mero conhecimento intelectual. Sabedoria é o estado mental que conhece a verdadeira natureza das coisas. Entre as principais características da sabedoria,
pode-se enfatizar o desapego e a compaixão — o serviço ativo pelo benefício dos outros.
O que é ética?
No buddhismo não há a idéia de "pecado", de uma ofensa causada pela quebra de um mandamento. Entretanto, existem alguns preceitos básicos que constituem a ética buddhista: não matar; não roubar;
não ter uma conduta sexual indevida; não mentir; e não usar intoxicantes. Desta forma, são evitadas as ações que resultam em frutos negativos. Em seu lugar, os buddhistas cultivam as ações que
conduzem a frutos positivos: praticam a bondade amorosa; a generosidade; o contentamento; a honestidade; e a atenção plena.
O que é meditação?
A meditação é um treinamento para purificar a mente de seus aspectos negativos — cobiça, raiva, ignorância — e em seu lugar cultivar os aspectos positivos — generosidade, compaixão, sabedoria.
Existem diferentes estilos de meditação buddhista que foram preservadas por diversas tradições. Caso esteja interessado em praticar meditação, é recomendável procurar um professor qualificado de
uma tradição autêntica.
O que é karma?
Karma signficia ação. Este termo refere-se à lei natural da causa e efeito, as ações e seus frutos. As ações podem ser feitas através da mente (os pensamentos), da fala (as palavras) e do corpo
(as ações propriamente ditas). A analogia mais usada para explicar o karma é a do plantio de uma semente, que amadurece e faz surgir frutos. As ações hábeis (positivas) criam virtude e conduzem à
felicidade, enquanto as ações inábeis (negativas) criam não-virtude e conduzem ao sofrimento. Apenas os seres iluminados não produzem mais karma, embora ainda estejam sujeitos aos frutos das
ações anteriores.
O que é renascimento?
É o processo pelo qual os seres nascem novamente após a morte em um dos reinos da existência — entre os deuses, semideuses, humanos, animais, espíritos famintos ou seres dos infernos. O que
determina o renascimento é o karma criado anteriormente. Todos os seres que nascem nestes reinos estão sujeitos à velhice, doença, morte e renascimento. Somente ao atingirem a iluminação eles se
tornam livres deste ciclo. A palavra "reencarnação" não é muito apropriada pois, segundo o buddhismo, o que continua é o impulso kármico e não há uma "alma" ou "espírito" imortal migrando de um
corpo para outro.
Os buddhitas acreditam em deuses?
O conceito buddhista de "deus" é diferente do conceito ocidental de um ser supremo, todo-poderoso, criador de todas as coisas. Os deuses não são onipotentes, onipresentes ou oniscientes. São
apenas seres que acumularam grande virtude e renasceram em reinos onde desfrutam de muitos prazeres e longa vida. Mesmo assim, eles continuam sujeitos à morte e à queda nos outros reinos.
Portanto, no buddhismo não existe a figura de um criador, ao qual devemos idolatrar e servir, nem a ameaça de sermos julgados e jogados no inferno caso não o obedeçamos. A meta da prática
espiritual não é a de fugir para um paraíso, deixando os outros seres para trás, mas sim atingir a iluminação e trazer benefícios para todos — não apenas aos seres humanos, mas para todos os
seres sem exceção.
Como surgiram o universo e os seres?
No buddhismo não existem mitos sobre a "criação". Não houve uma "causa primeira", não aconteceu um evento inicial isolado que possa ser rotulado como "a criação", nem haverá um evento final que
possa ser chamado de "o fim do mundo". O tempo não tem início nem fim; da mesma forma, os reinos da existência cíclica não têm início nem fim. Todas as coisas surgiram de suas próprias causas e
condições e estão sujeitas à cessação de acordo com essas mesmas causas e condições.
Quais são as escrituras buddhistas?
O cânone buddhista é conhecido como Três Cestos ou Tripitaka. Ele recebe este nome porque os ensinamentos do Buddha foram compilados em três grupos. Os discursos atribuídos ao Buddha e seus
discípulos foram registrados em textos conhecidos como Sutras. As regras monásticas foram registradas em um conjunto de textos intitulado Vinaya. Finalmente, os textos que lidam com questões
metafísicas compõem o Abhidharma.
O que são as escolas buddhistas?
Conforme se espalhou pela Ásia ao longo dos séculos, a comunidade buddhista — a Sangha — adaptou-se às necessidades locais e fez surgir diversas tradições, ou escolas. Todas as tradições
autênticas possuem um núcleo comum de ensinamentos, como as quatro nobres verdades, o nobre caminho óctuplo etc. Cada escola enfatiza determinados aspectos e práticas do ensinamento buddhista.
Conhecendo as diversas tradições, também podemos apreciar um pouco das belíssimas culturas orientais. No sul e sudeste asiático, a tradição predominante é a Theravada. Na China, na Coréia, no
Japão e no Vietnã, desenvolveu-se o grande veículo ou Mahayana, cujas vertentes mais conhecidas são a escola Zen e a escola Terra Pura. Já no Tibet, Nepal, Mongólia e outras regiões próximas ao
Himalaya, o buddhismo tântrico ou Vajrayana fez surgir quatro escolas — Nyingma, Kagyü, Sakya e Gelug.
Quem foi o Buddha?
Siddhartha Gautama, o Buddha histórico, viveu no norte da Índia por volta dos séculos VI-V a.C. Depois de renunciar à sua riqueza para buscar o fim do sofrimento, ele meditou durante muitos anos
e finalmente atingiu a iluminação ou despertar. A partir de então, ele passou a ser conhecido como o Buddha — o Desperto, o Iluminado — e se dedicou ao ensinamento do caminho que conduz ao
despertar. No fim de sua vida, o Buddha entrou em parinirvana, a liberação final, a paz suprema.
O Buddha era gordo?
Não. O Buddha histórico era um monge que se alimentava apenas uma vez por dia e passava boa parte do seu tempo caminhando, indo a diversos lugares para ensinar e meditar. Já a figura corpulenta,
popularmente conhecida como o "Buddha da Felicidade" ou "Buddha Sorridente", na verdade refere-se a um monge buddhista chinês que viveu muitos séculos depois do Buddha histórico.
O Buddha era um deus todo-poderoso?
Muitos hindus consideram o Buddha como um avatar (emanação) de uma divindade chamada Vishnu. Entretanto, o Buddha nunca afirmou ser um "deus", "filho de deus" ou algum "profeta enviado de deus".
Sua sabedoria era onisciente, mas nunca afirmou ser onipotente. O Buddha foi um ser humano como todos nós, e todos nós temos o potencial de atingir a iluminação.
O Buddha era um salvador?
O Buddha não se apresentou como um salvador, nem exigiu que seus seguidores o servissem ou o adorassem para conseguirem a salvação. Ele também nunca os chantageou com a ameaça de deixá-los cair
no inferno. Ao invés disso, o Buddha foi um mestre extremamente compassivo com seus discípulos. Seus ensinamentos valorizam a sabedoria e a compaixão como caminho para o despertar. No buddhismo,
a liberação não dependende necessariamente da fé ou de orações, mas sim da nossa prática da virtude e da sabedoria.